segunda-feira, 12 de outubro de 2015

DIA DAS CRIANÇAS


Hoje é dia das crianças e não poderia deixar de tecer algum comentário acerca dele.
Iniciei minha carreira no magistério com aulas de Sociologia para o Ensino Médio da rede estadual de São Paulo. Um dos temas que abordei ao longo das aulas foi o consumismo infantil, e, para nortear as discussões, selecionei o documentário "Criança, a Alma do Negócio". 
Como nesta época não tinha contato direto com nenhuma criança, me baseei apenas em pesquisas e nos comentários que meus alunos traziam sobre a vivencia que eles tinham com crianças.
Ano passado, comecei a lecionar no Ensino Infantil e Ensino Fundamental ciclo I de uma conceituada escola particular da cidade de Santo André e pude observar atentamente cada questão salientada pelos meus alunos e por pesquisas e artigos que li. 
Sou defensora das atividades lúdicas, e, por realizar diversos jogos e competições percebo que, grande parte dos alunos não sabem lidar com a frustração. Acredito que, em nenhuma época deste mundo, alguém ficou contente em perder, entretanto o que acontece pós derrota é algo impressionante. 
Tem criança que chega a mentir descaradamente com a finalidade de atingir a vitória do colega que venceu, ou justificam dizendo que não ganharam porque aquele jogo era “sem graça”. Atitudes estas que fazem com que a criança não entenda o mecanismo da vida, afinal como sempre digo aos meus alunos o jogo envolve questões além do aprendizado, tais como aprender a conviver com as diferenças, aprender a ganhar e a perder, sociabilidade entre muitas outras questões. Isso faz com que essa criança já cresca imaginando que ela têm que ser a melhor, mesmo que ela tenha que culpar o outro.
Em relação a lição de casa, essa questão fica explícita, um dia o aluno me disse que, não havia feito a lição porque sua babá não abriu o livro na página correta e que ele iria falar para os seus pais mandarem ela embora. Outros alunos justificaram a não realização da lição de casa por desculpas como: "minha mãe perdeu meu livro", "não tive tempo", "não tinha borracha" e por aí vai… Acredito que esses argumentos retratam exatamente essa criança que, não aceita perder ou nesse caso errar. Essa frustração de não ter feito, vem acompanhada sempre com uma justificativa. Deixando a verdade e a responsabilidade sempre de lado para culpar o outro.
Outra questão que me preocupa é o valor que essa geração tem dado ao dinheiro, existe uma competição desde os bem pequenos para saber qual tênis tem a marca mais legal, qual carro é o mais caro, qual estojo está mais na moda entre "n questões". Cheguei a presenciar alunos comparando os carros dos seus pais e, um deles, disse para o outro: "seu pai, não tem carro, tem carroça". Intervi, conversei com eles, entretanto, poucos minutos depois ouvi um dos alunos explicitando as funções que o carro do pai dele tinha. 
Depois das férias, perguntei para os alunos o que eles fizeram de gostoso nesses dias afastados da escola, a maioria das respostas foram utilizando os verbos: "gastar", "comprar" e "ganhar", e, para minha surpresa, "brincar" ficou em último lugar. Um aluno em especial me respondeu: "fui para minha casa de 3 andares na praia", quando ele disse isso, perguntei: "mas o que você fez de legal?" e a resposta dele me deixou refletindo até agora, afinal ele disse: "fiquei em uma casa de frente para o mar que quase ninguém tem". 
Outra competição está nas festas infantis já que, muitas crianças comparam os buffets e se recusam a ir nas festas dos seus amigos pelo simples fato de ser em um buffet sem graça, ou que não tem nada para fazer. Esse "nada para fazer", retrata a ansiedade e a falta de criatividade dessa geração. 
Por fim, vejo uma vaidade imensa desde cedo, um culto ao corpo e a aparência que dão medo. Crianças de três anos já mostram a unha super fashon, crianças de quatro anos já fazem chapinha, crianças de cinco já brincam de fazer o pé e a mão, crianças de seis anos extremamente magras, falam que tem "barriga" e precisam comer menos e por aí vai… Até o ponto de crianças chegarem a fazer maquiagens que até hoje eu não sei fazer...
Os tempos são outros e sou extremamente favorável a mudança. Afinal, é graças a ela que criamos novos olhares, novas perspectivas, novos aprendizados e reciclamos nossas certezas e incertezas nos mostrando que nada nesse mundo é estático e definitivo, mas com olhar de educadora me preocupo e muito com o que estamos formando. Quem será esse cidadão? 
Sei que os pais, sempre muito ocupados, trabalham exaustivamente para conseguir pagar uma escola particular que consideram de boa qualidade, esportes, línguas e às vezes até piscicologos, e para suprir a falta de atenção que dão aos filhos, decorrente de tanto trabalho, compram o que seus filhos almejam como retrata a pesquisa do SPC Brasil, em que 59% dos entrevistados "compram o que os filhos querem". 
Será que é isso que eles precisam, ou será que é isso que o sistema capitalista quer? 
Peço que reflitem com essas questões:
* Por que será que as crianças estão cultuando tanto a aparência?
* Por que meu filho / minha filha, não aceita perder?
* Por que ele quer que eu mude meu carro?
* Por que ele está tão crescido?
Entre muitos outros questionamentos…
É interessante que, a resposta de todas essas perguntas é a mesma, mas não vou responder! Para formar a SUA resposta não deixe de assistir ao documentário Criança a Alma do Negócio (link abaixo), não deixe de abrir os links e refletir sobre essas questões nesse dia "dedicado aos pequenos"….
https://www.youtube.com/watch?v=KQQrHH4RrNc
https://www.youtube.com/watch?v=FNEN3eJ8_BU 
http://g1.globo.com/economia/seu-dinheiro/noticia/2015/03/59-dos-pais-compram-o-que-os-filhos-querem-mostra-pesquisa.html
https://www.fic.ufg.br/n/8115-pesquisa-da-ufg-revela-nova-geracao-de-pequenos-consumidores


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